A rede entrelaçada da memória

As memórias definem nossa capacidade de recordar todas nossas vivências e todos os detalhes sobre o mundo, como a definição do rosto daqueles que amamos até o que é um lago ou um ganso, para que estas sensações sejam transformadas em experiências reais, no entanto é necessário que o cérebro de alguma forma funda estes elementos individuais em todo o processo integrado. Uma memória bem integrada também depende de outros diversos fatores, e a evolução do ser humano possui um papel importante nestes processos, pois nossa sobrevivência ao longo dos milênios dependeu em boa parte de nossas lembranças.

O campo da neurociência tem começado a estudar como o cérebro liga as memórias na vasta extensão de espaço e tempo, os estudos que temos até o momento visam entender o modo como adquirimos, armazenamos, recordamos, e alteramos memórias individuais. Já sabemos que os tipos de memórias não estão isolados, visto que, uma lembrança puxa a próxima, estabelecendo assim sequências intrincadas de memórias que nos ajudam a compreender o mundo a nossa volta.

No final dos anos 1990 ainda faltava-nos ferramentas e conhecimentos básicos para determinar como as memórias são entrelaçadas, um primeiro passo-chave para mudar este cenário foi a descoberta de um conceito nomeado de alocação de memória que consiste na percepção de que o cérebro se utiliza de regras específicas para atribuir pedaços de informações aprendidas para grupos de neurônios envolvidos na formação da memória.

Ocorreu um acaso surpreendente quando Mike Davis em 1998, em uma visita a Universidade de Yale, compartilhou descobertas de estudos nos quais ele manipulou um gene conhecido como CREB para melhorar a memória emocional em ratos. Antes desta descoberta alguns laboratórios haviam mostrado que o CREB é necessário para a estabilização das memórias. O gene CREB faz isso ao codificar uma proteína que regula a expressão de outros genes necessários para a memória, a proteína CREB ativada atua como uma espécie de arquiteto molecular do processo, sem a sua ajuda a maioria das experiências seriam rapidamente esquecidas.

Até agora o que temos é que vários experimentos em larga escala defendem a hipótese de alocar-para-conectar. O que se espera é que a compreensão acerca de como as memórias estão entrelaçadas possa ajudar nos tratamentos de problemas de memória.

 

Fonte: Revista Scientific American, agosto 2017.

Flavio Queiroz

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